Disciplina - História

História

13/08/2010

A origem e o destino dos livros

Monique Cardone, de Paraty - Revista de História da Biblioteca Nacional
Os historiadores Peter Burke e Robert Darnton foram os responsáveis por debater o passado, o presente e o futuro do livro no segundo dia da Festa Internacional de Paraty, 05 de agosto.
Em sua apresentação, o americano Robert Darnton disse que o mundo dos livros é muito complexo e sua criação foi uma das grandes invenções de todos os tempos. O historiador destacou as origens literárias políticas na França do século XVIII. “Disseram que eu criei uma visão pornográfica da Revolução Francesa. Que outros livros eles liam na época? Não tinha uma filosofia refinada. A escola pornográfica ajudou a reconstruir a literatura francesa”, explicou Darnton.
No século XVIII, poucos tinham a permissão de publicar livros, que era concedida pelo rei. Por isso, a pirataria era uma indústria imensa e quase todos os exemplares lidos nos anos 20 e 30, antes da revolução, eram contrabandeados.
Já no século seguinte, fazia parte do prestígio dos países terem uma enciclopédia em sua própria língua. E o britânico Peter Burke falou da importância de estudá-las. “No século de XIX, a enciclopédia foi fundamental para a nacionalização do conhecimento”, disse o historiador.
Hoje, há uma discussão polêmica sobre o fim dos livros impressos, e Burke abre uma brecha para o assunto. “Viver nos últimos 30, 40 anos foi desconfortável e divertido. Desconfortável porque sou um leitor à moda antiga, dos tempos em que ir a livrarias e folhear livros era uma forma boa de passar o final de semana”.
Ao mesmo tempo, o historiador se diz privilegiado por presenciar a revolução da virada do século XX para o XXI com as modificações que fazem desse um tempo de guinada na história da mídia. “Mas vendo o entusiasmo pelos livros em papel, aqui em Paraty, acho que a morte dos livros está longe", celebrou ele.
Para esquentar ainda mais o debate, Burke defende as enciclopédias on-line como a Wikipédia, tão criticada por muitos. Segundo ele, é uma mudança importante porque todos podem acrescentar informações. “Mas o que eu mais gosto é a advertência: não se pode confiar totalmente nesse artigo. Com esse tipo de ferramenta, a tarefa mais importante do professor é ensinar as crianças a serem críticas. O conhecimento, elas podem conseguir fazendo buscas na internet”.
Robert Darnton também é um entusiasta do site: “As mudanças são assustadoras por conta da divulgação de qualquer tipo de conteúdo, porém é ótima para a nacionalização e profissionalização do conhecimento”.
A historiadora Lilia Schwarcz, mediadora da mesa, levantou a questão dos direitos autorais. Para Peter, eles têm o lado positivo e o negativo. "É uma forma justa de premiar os autores, mas nos últimos 30 anos vimos uma tentativa constante de patentear a propriedade intelectual. Isso me preocupa", afirmou o historiador.
Robert Darnton vai mais além: "Não só me preocupa como me deixa com raiva". Segundo o americano, no estatuto de 1710, o direito autoral era limitado por 14 anos e podia ser renovado por apenas mais um. “Hoje, os lobistas de Hollywood querem direitos autorais para sempre; querem controlar a produção cultural de forma definitiva. Deveria haver um movimento de oposição aos conhecimentos privados”, esbravejou o historiador.

Esta notí­cia foi publicada em 06/08/2010 no sítio revistadehistoria.com.br. Todas as informações nela contida são de responsabilidade do autor.
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