Disciplina - História

Música

A década de 1950 foi marcada por grandes transformações na cultura musical brasileira: influência do pós-guerra, início da televisão com forte presença dos meios de comunicação, aumento da participação de intelectuais junto às bases populares da música brasileira, melhoria econômica da população e apelo nacionalista iniciado pelo governo de Getúlio Vargas.

Bossa Nova Origens, Influências e Artistas


Em 1958, com o lançamento do LP Canção do Amor Demais, no qual Elizeth Cardoso interpretava Chega de Saudade, de Tom e Vinícius, entre outras, pode ter sido o marco inicial da Bossa Nova. Nesse LP João Gilberto surpreendeu a todos com sua nova batida de violão; foram experiências musicais de vários artistas, admitindo-se a influência do jazz na batida da Bossa Nova.

Sucederam-se Samba de uma nota só de Tom e Newton Mendonça, Desafinado, Garota de Ipanema,Só danço samba, estas últimas de Tom e Vinícius e muitas outras, marcando definitivamente a Bossa Nova como o grande movimento da moderna Música Popular Brasileira. Entretanto, o nome mais importante do movimento seria mesmo o de João Gilberto, acompanhado de mais dois compositores, cujos nomes seriam fundamentais para a consolidação do novo ritmo, Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes.

A Bossa Nova veio para agitar uma cena musical onde ainda imperavam as músicas norteamericanas (Nat King Cole, Frank Sinatra, Johnny Mathis ainda eram muito populares e, graças ao rock and roll, Elvis Presley, Neil Sedaka, Paul Anka e Brenda Lee eram os novos ídolos populares da juventude brasileira), os boleros e os samba-canções de Nelson Gonçalves, Anísio Silva, Trio Los Panchos, Bienvenido Granda, Carlos Galhardo, Maysa e outros mais, além da mais recente onda que começava a empolgar todo o país, o rock brasileiro, cujo ídolo maior, Celly Campelo, era a cantora brasileira mais badalada e festejada do momento.

O que se pode determinar é que esse novo ritmo nasceu, de certa forma, casualmente, como resultado de encontros de jovens pertencentes à classe média carioca, em apartamentos em Ipanema, Copacabana ou Leblon, onde eles se reuniam em festinhas. Tocava-se muita música, e o violão era o instrumento da moda. Dentre esses apartamentos, historicamente, o do pai da futura cantora Nara Leão, ainda quase uma garota, situado exatamente na Avenida Atlântica, se avultava, porquanto se tornara o point preferido dessa juventude dourada, onde presenças como a de Carlos Lyra, Roberto Menescal, Sérgio Ricardo, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Ronaldo Bôscoli, Chico Feitosa, os irmãos Mário, Oscar, Iko e Léo Castro Neves entre outros artistas, eram constantes.

A Bossa Nova bebeu de muitas fontes, mas quem mais contribuiu com o seu fortalecimento foi aquele identificado com um ritmo odiado sobremaneira por essa juventude dourada, o samba-canção. Com efeito, praticamente todos os cantores e compositores que aderiram a esse novo ritmo vieram do samba-canção.

O fato é que aquela maneira diferente de tocar e cantar o samba, já no começo do movimento, começou a sofrer pesados ataques de parte da crítica especializada: aqueles mais nacionalistas atacavam a forte influência do jazz, traduzida nos acordes dissonantes comuns ao ritmo norteamericano, considerando a Bossa Nova uma coisa híbrida que não poderia ser chamada de samba. Outros não conseguiam ver arte naquela maneira de cantar, sussurrada, acostumados que estavam com as interpretações dos cantores nacionais. Entretanto, à Bossa Nova, não importavam as opiniões divergentes, veio para exterminar uma era musical, fazendo com que a música popular brasileira atingisse novos patamares rumo à modernidade.

Sinfonia de Brasília


A Sinfonia dividida em cinco partes
I - O Planalto Deserto
II - O Homem
III - A Chegada dos Candangos
IV - O Trabalho e a Construção
V - Coral

Descrição detalhada das cinco partes por Antonio Carlos Jobim em Janeiro de 1961:

A 1ª parte aborda o Planalto Deserto:
a música começa com duas trompas em quintas, que evocam as "antigas solidões sem mágoa" de que nos fala Vinícius de Moraes e a majestade dos campos sem arestas que há milênios se aquietaram. O espírito do lugar prevalece. Duas flautas comentas liricamente as infinitas cores das auroras e poentes, sobre um fundo harmônico de cordas em tremolo. O mistério das coisas anteriores ao homem é exposto numa luz clara e transparente: Onde se ouvia nos campos gerais do fim do dia o grito da perdiz, a que respondia o pio melancólico. Às vezes, à beira d'água, surge a trama vegetal dos galhos e lianas . O timbre da orquestra escurece. O infinito horizonte se enche das cores do crepúsculo e se escuta mais uma vez o tema do Planalto.

A 2ª parte aborda o Homem:
seu espírito de conquista, sua violência, sua fôrça, seus desejos e seus sofrimentos para atingir o altiplano. Enquanto escrevia a música desta parte, formou-se em meu espírito a seguinte imagem: uma carroça vai penosamente se arrastando serra acima. O Homem instiga os animais. A marcha acelera-se e surge o Canto, a que responde a Natureza, calma e isenta de desejos. Mas o Homem quer as coisas. Seu braço forte, riscado de grossas veias, ergue-se a uma lâmina afiada corta os ramos dessa Natureza imparticipante. O picadão se aprofunda sertão a dentro. O Homem haveria de plantar sua cruz no Planalto.

Na 3ª parte:
os modernos pioneiros retomam o trabalho dos velhos bandeirantes. O projeto da nova capital é planificado e torna-se necessário, para levar a efeito a gigantesca tarefa convocar todas as fôrças vivas da nação. A Chegada dos Candangos conta da vinda desses homens de olhos puxados e zigomas salientes; homens que em toda sua pobreza ainda encontram um jeito de rir e cantar. Homens sem os quais Brasília não existiria.

Segue-se a 4ª parte:
O Trabalho e a Construção. Evitamos a música concreta para caracterizar o trabalho (ruído de serras, estacas etc.) porque isso nos pareceu óbvio. O trabalho é visto de maneira mais subjetiva. A música começa com um fugato que retrata o inicio da ação. A sorte está lançada. A inexorabilidade da ação é posta em evidência. O fugato desenvolve-se de maneira matemática. A tônica é o centro de tudo: as tonalidades satélites vão e vêm mostrando suas cores puras, mas tudo reverte à ofuscante tônica central. Há um plano de construção e esse plano é rigorosamente respeitado. Por vezes o trabalho cessa para dar lugar à contemplação da obra já feita, e três trompas aparecem sugerindo a graça e leveza líricas do Palácio da Alvorada diante da grande planície ensimesmada, de que nos fala Vinícius. Mas o trabalho tem de prosseguir. Surge um ritmo marcato nas vozes masculinas e no piano, aqui usado como instrumento de percussão. Depois os arcos tomam a si o mesmo motivo e às vezes, eventualmente, se lamentam, como a dizer que nenhum trabalho é feito sem sofrimento. Os instrumentos e logo os metais retomam o marcato, a sugerir o sol no zênite reverberando nas superfícies brancas, ferindo os olhos dos homens que trabalham. Novos temas arquitetônicos aparecem, cortados por uma frase de inusitado lirismo: pois o trabalho é também amor e poesia. Volta uma vez mais o tema do Palácio da Alvorada e tudo se encaminha para um desfecho inevitável. As tonalidades satélites mostram novamente suas cores, mas a tônica domina tudo. Os fatos se precipitam e o trabalho e a poesia dão-se as mãos. Algumas celebrações, alguma grandiosidade e o trabalho se conclui de repente numa frase triste, enunciada pela voz humana . Os homens voltam para suas casas na melanconia do poente. Um canto-chão diz de suas solidões, de suas tristezas, de suas mulheres ausentes. As cordas tomam a si o canto-chão, enquanto o texto fala dessa saudade dos homens por suas mulheres. Surgem pela primeira vez na Sinfonia vozes femininas que contrapontam intuitivamente com as vozes masculinas. Depois em bocca chiusa volta o canto-chão nas vozes masculinas retomando o tema da solidão. Um acorde de orquestra transporta ao tom relativo menor e vem a treva total. Surge, independente do Homem, o tema do Planalto Deserto, da primeira parte.

Segue-se, na 5ª parte:
o Coral final, comemorativo da realização.
Vinícius usou além da palavra-sentido, a palavra-som, o que causa muitas vezes um efeito surpreendente. O Brasil aparece em toda a sua nostalgia e grandeza. Uma nova civilização se esboça. Herdeiro de todas as culturas, de todas as raças, tem um sabor todo próprio.

Ficha Técnica da Sinfonia Música: Antonio Carlos Jobim


Poesia: Vinícius de Moraes
LP 12" capa dupla, gravado em novembro de 1960, no estúdio da Colúmbia, Rio de Janeiro
Orquestra sinfônica sob a regência de Antonio Carlos Jobim
Recitativo por Vinícius de Moraes (alguns trechos com participação de Tom Jobim)
Coro Dante Martinez , sob a direção de Roberto de Regina
Participação de Os Cariocas e Elizete Cardoso
Piano: Radamés Gnattali
Capa: Oscar Niemeyer
Fotografia: Franceschi
Engenheiro de som: Sergio Lara Campos
Tom e Vinícius na capa interna do LP

Histórico da Sinfonia


Em fevereiro de 1958, o Presidente Juscelino Kubitschek encomendou a Vinícius e Tom, a Sinfonia da Alvorada, que mais tarde ficou sendo conhecida como Sinfonia de Brasília. O trabalho da dupla foi adiado por causa de protestos contra a construção da cidade, originados principalmente nas áreas de oposição ao governo.

Por meio do arquiteto Oscar Niemeyer, mais tarde, Juscelino reiterou o convite. O arquiteto transmitiu a Vinícius a vontade do presidente de ter a Sinfonia pronta antes de 21 de abril de 1960, dia marcado para a mudança da capital.

A convite de Juscelino, Tom e Vinícius passaram uma temporada em Brasília, para conhecer o local onde a cidade estava sendo construída. No entanto, Brasília foi inaugurada sem a Sinfonia, e um espetáculo de luz e som foi planejado para 7 de setembro de 1960, quando a Sinfonia seria finalmente apresentada, também não aconteceu, por causa dos altos custos apresentados pela empresa francesa Clemançon, que proveria o equipamento e a tecnologia para o evento.
A Sinfonia da Alvorada foi apresentada em primeira audição em 1966, na TV Excelsior de S. Paulo. Uma segunda apresentação deu-se na Praça dos Três Poderes em Brasília em 1986, com regência de Alceu Bocchino, e Radamés Gnattali ao piano. O texto de Vinícius foi falado por sua filha Susana de Moraes, e por Tom Jobim.

Fontes de Pesquisa

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