Disciplina - História

O trabalho da mulher no magistério brasileiro nos séculos XIX e XX

Autora: Sueli de Fatima Dias
Estabelecimento: Colégio Estadual Nilo Cairo
Município/ Estado: Apucarana - Paraná
Série: Ensino Médio – todas as séries

Conteúdo Estruturante: Relações de trabalho
Conteúdo Básico: Trabalho escravo, servil, assalariado e livre.
Conteúdo Específico: O trabalho da mulher no magistério brasileiro nos séculos XIX e XX.

Justificativa
A experiência de trabalho apresentada é produto de uma prática pedagógica realizada com a turma do 1º ano do curso de Formação de Docentes para a Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental, ofertado na cidade de Apucarana - PR, pelo Colégio Estadual Nilo Cairo.
Este curso tem uma grade curricular, assim como os demais cursos profissionalizantes integrados ao Ensino Médio, a associação de disciplinas da formação básica com a formação profissional específica. A disciplina de História possui uma carga horária de duas aulas semanais, é ofertada somente no 1º e 2º ano do curso.
Contemplar os objetivos da disciplina e preparar um programa com conteúdos significativos que se articulem com a proposta do curso é sempre uma tarefa delicada e exigente. Para tanto, de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica da disciplina História (DCE), definimos que história temática organiza os conteúdos numa perspectiva interdisciplinares e mais significativos, relacionados ao curso escolhido pelos alunos.
Nesse sentido, o trabalho como tema estruturante e o mundo do trabalho na sociedade brasileira no início do século XX, o específico e ainda, levando em consideração a esmagadora presença feminina no curso de formação de docentes, concordamos com a necessidade de conhecer melhor o papel da mulher nesse contexto.
Reforçamos que se abriu uma possibilidade de ampliar o estudo de relações de gênero no mundo do trabalho, vislumbramos a possibilidade de conhecer uma das construções da identidade docente no Brasil.
A apresentação dessa experiência de trabalho complementa as reflexões do Grupo de Estudos da disciplina de História, no ano de 2010. Reforçamos a importância da história temática como um encaminhamento metodológico de estudos, além de retomar as já conhecidas discussões a respeito da integração das áreas, contemplando a interdisciplinaridade. Pretendemos, além de apresentar uma sugestão para a utilização da TV multimídia em sala de aula, compartilhar experiências de trabalho, refletir a atuação, como também ampliar o processo de formação dos futuros docentes.

Descrição metodológica
A realização dessa experiência fundamentou-se nas atividades citadas e descritas a seguir:
1.Opção pela metodologia de ensino
2.Definição dos recortes temáticos
3.Apresentação e discussão do Vídeo – Sonho Impossível?
4.Pesquisa no Censo do professor
5.Montagem de gráficos e exposição
6.Apresentação e discussão Vídeo – Vida Maria
7. Avaliação da prática

O primeiro passo para a realização dessa prática foi a definição da história temática como metodologia de ensino para a disciplina de História, e da necessidade de estudos e tarefas interdisciplinares para o melhor desenvolvimento do tema.
Após ter apresentado o trabalho como tema estruturante, definimos conteúdos específicos tais como: o conceito e a compreensão da categoria trabalho no processo histórico, as características da transição do trabalho escravo para o trabalho livre no Brasil, a industrialização, o processo de urbanização, o crescimento do comércio e das profissões liberais, entre elas a profissão docente.
Nessa metodologia deve haver flexibilidade, pois os recortes podem ser definidos a partir do diálogo e participação dos sujeitos envolvidos. Assim, em nosso caso, o trabalho da mulher no magistério brasileiro também se tornou um conteúdo específico para esse tema.
Diante da esmagadora presença feminina no curso de Formação de Docentes, já se conheceu uma realidade do mundo do trabalho que precisava ser aprofundada e compreendida como questão de gênero e produto das relações sócio-culturais na sociedade brasileira:
Para motivar as discussões a respeito da participação da mulher no mundo do trabalho e no contexto de industrialização, assistimos e discutimos o fragmento do filme de animação intitulado Sueño Imposible?,
Esse filme de animação, divulgado em 1983 pelas Nações Unidas é uma co-produção da ONU com Dagmar Doubkova de Kratkti Films, da extinta Thecoslováquia. O vídeo retrata uma família trabalhadora onde a mulher cumpre uma dupla jornada de trabalho. Recebe no mercado de trabalho, menos que o marido e educa os filhos para a manutenção das relações culturais patriarcais, mas sonha com a cooperação do marido e filhos nas tarefas domésticas.
Para tratar especificamente a presença da mulher no magistério, nos fundamentamos nas leituras da História da Educação reconhecendo que no Brasil, a primeira Escola Normal, que formava professores para as escolas primárias, foi criada na Província do Rio de Janeiro em 1835. Mas, somente a partir de 1870, com a influência do pensamento republicano e positivista, os ideais liberais de civilidade e progresso através da educação escolar tornaram-se mais evidentes e passaram a considerar a importância da formação dos professores (VILLELA, 2000).
Os frequentadores da Escola Normal deveriam ser majoritariamente homens, mas o contexto de industrialização, urbanização, crescimento comercial, baixos salários oferecidos pelo magistério e a necessidade de empregar especialmente as jovens pobres dos orfanatos ou solteiras, foram inserindo gradativamente a mulher na profissão docente (TANURI, 2000). Consideravam a mulher apta ao serviço escolar com as crianças porque entendiam este trabalho como uma extensão das atividades domésticas e familiares. Defendiam que a professora, que em primeiro lugar já não era reconhecida como provedora da família e então, podia receber pouco pelo trabalho, aliava a natureza feminina e a vocação para desenvolver as primeiras instruções escolares, pois estas não necessitavam métodos mais elaborados, como era o caso do ensino secundário ou superior (ALMEIDA, 1998).
Dentre os quesitos que deviam ser seguidos por essas profissionais estavam a obrigação de ensinar somente as “primeiras letras”, isso não incluía a geometria, pois esta exigia muita racionalidade (condição, entendida naquele período, comum apenas dos homens), ensinar a coser, bordar e prendas domésticas de maneira geral. Reafirmava-se a compreensão de preparar a mulher para o matrimônio.
O contentamento com salários mais baixos que os dos homens vinha acompanhado da aceitação de que nunca exerceriam cargos de inspeção, supervisão ou direção. Também, como demonstram pesquisadores da temática, deveriam atestar comportamentos considerados dignos das pessoas e mulheres de bem.
Nos propusemos a investigar no censo do professor, disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=13596&Itemid=975> a diferenciação numérica entre mulheres e homens no magistério. Por meio dos dados, fizemos a constatação de que a presença da mulher é concentrada nas Séries Iniciais e menos frequente nas Séries Finais ou Ensino Superior.
Dessa constatação, surgiu a necessidade de uma exposição para divulgar os dados. Em parceria com a professora de Matemática e no laboratório de informática, foram produzidos gráficos com a quantidade de homens e mulheres na Secretaria Municipal de Educação de Apucarana, que oferta o ensino de Educação Infantil e Ensino Fundamental, dos professores e professoras do Ensino Fundamental e Médio do próprio colégio – Estadual Nilo Cairo, das Instituições de Ensino Superior de Apucarana e das matriculas do curso de Formação de Docentes.
Para finalizar nossos trabalhos, refletimos acerca da resistência e transformação das relações de gênero excludentes, especialmente no magistério brasileiro e reconhecemos a formação, por meio da educação como perspectiva de mudança. Assistimos ao vídeo – Vida Maria, produzido por Marcio Ramos, em 2006. A animação retrata a vida de Maria, os sonhos de menina, o encantamento com o saber e a reprodução das relações sociais.
Os alunos fizeram uma avaliação da prática pedagógica realizada e consideraram a importância dos conteúdos abordados muito mais pelos significados que nos trouxeram que, pela quantidade de fatos relacionados. Sentiram-se realizando uma tarefa de pesquisa e integrando diversas disciplinas.
Esta atividade pode ser considerada como uma experiência diferente do convencional e com experiências dessa natureza, apesar das suas limitações, estaremos contribuindo com o processo de repensar o ensino de História e nos preparando para, entre outros desafios, questionar: qual educação queremos promover e para qual sociedade queremos contribuir.

Referências
ALMEIDA, J. S. de. Mulher e educação a paixão pelo possível. São Paulo: UNESP, 1998.
BITTENCOURT, Circe M. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
STAMATTO, M. I. S. . Um olhar na História: a mulher na escola (Brasil:1549-1910). In: História e Memória da educação Brasileira, 2002, Natal. II Congresso Brasileiro de História da Educação, 2002. Disponível em: <http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema5/0539.pdf> Acesso em: 13 de set de 2009.
TANURI, Leonor. História da formação de professores. Rev. Bras. de Educ. n.º 14, maio - ago. 2000, pp. 61-88.
VILLELA, H. de O. S. O mestre-escola e a professora. In: LOPES; FARIA FILHO; VEIGA (org) 500 anos de Educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 95-134.

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