Disciplina - História

As cruzadas: violência e fé - Encaminhamento

1ª Aula

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Para iniciar esta sequência de aulas sobre as Cruzadas, o professor provocará uma discussão acerca da intolerância religiosa. Para isso, exibirá a fotografia de uma das torres do World Trade Center atingida pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2011. Enquanto apresenta a imagem, o professor questionará os estudantes: O que é possível ver nessa fotografia? Quando e onde esse evento ocorreu? Quais os sujeitos envolvidos neste evento? Existiu uma motivação religiosa nesses atos de violência? Após estes questionamentos, o professor poderá identificar conhecimentos prévios dos estudantes sobre religiosidade e violência. .

Depois de feitas as questões, o professor mediará os debates explicando que a fotografia foi tirada em 11 de setembro de 2001, quando terroristas ligados ao grupo fundamentalista islâmico al-Qaeda atingiram com um avião a torre norte do World Trade Center. Poucos minutos depois, uma segunda equipe de terroristas se chocou com a torre sul do mesmo edifício. No fim da tarde, ambas as torres desabaram. Além dos ataques ao WTC, nesse mesmo dia, representantes do Al-Qaeda atingiram o Pentágono e uma área rural da Pensilvânia. Segundo as autoridades estadunidenses, esse episódio contabilizou cerca de 2.700 mortes.
(11 de setembro. WIKIPEDIA. Adaptado.)

Espera-se que os estudantes observem que o ataque foi executado por um grupo terrorista islâmico e esse fato gerou uma onda anti-islâmica nos Estados Unidos graças a associação direta (e equivocada) entre terrorismo e islamismo.

Durante a discussão com os alunos, o professor deve enfatizar que tal ligação é incorreta, e essa conexão equivocada foi agravada quando o então presidente dos Estados Unidos George W. Bush fez uma declaração comparando o combate ao terrorismo às Cruzadas medievais. Nesse ponto do debate, os estudantes lerão coletivamente um trecho do artigo 11 de setembro de 2001: a origem da intolerância, de Natalia Yudenitsch, publicado na revista Aventuras na História
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Aventuras na História


Em 16 de setembro de 2001, cinco dias depois dos ataques contra as Torres Gêmeas, em Nova York, o presidente dos EUA, George W. Bush, cometeu uma gafe histórica. Destacando Osama bin Laden como o principal suspeito pelo ataque, ele anunciou a retaliação, avisando que “essa cruzada, a guerra contra o terrorismo, vai demorar algum tempo”. Foi o suficiente para arrancar indignados protestos ao redor do globo – especialmente de países árabes e comunidades muçulmanas. “Para o mundo islâmico, o termo cruzada lembra as matanças da época medieval”, conta David Armstrong, professor de Ciências Políticas da Universidade de Exter, na Inglaterra. “Apesar do glamour com o qual filmes e romances envolvem o período, as Cruzadas foram uma série de crimes históricos”, analisa Armstrong.
O problema da declaração de Bush foi a alusão ao contexto original das Cruzadas: a intolerância, que levou cristãos a uma jornada de extermínio contra muçulmanos. Muitos enxergaram a intenção dos Estados Unidos em conclamar países cristãos a um ataque direto contra o universo islâmico. Uma antiga justificativa para outra chacina. (...) O desconforto global diante da menção do termo em pleno século 21 tem raízes na Idade Média, quando as Cruzadas provocaram uma série de mudanças na Europa. Na época, a união do continente sob o poder do papa foi um marco. A diluição desse modelo a partir do século 14 deu origem aos fundamentos do estado-nação moderno. “As missões também acabaram trazendo elementos da cultura, da medicina e da arquitetura islâmicas para o Ocidente”, avalia Paul Cobb, professor especializado em história islâmica da Universidade de Chicago. A riqueza de várias cidades italianas, graças ao comércio das colônias nos estados cruzados, também deu sustentação ao renascimento, movimento cultural-humanista que marca o fim de Idade Média.

(YUDENITSCH, Natalia. 11 de setembro de 2001: a origem da intolerância. Revista Aventuras na História.)

Depois da leitura, o professor instigará os estudantes com as seguintes questões:
1. Por que a comparação feita por George W. Bush foi tão condenada pelo mundo islâmico?
2. O que você sabe sobre as Cruzadas na Idade Média?

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Livro Didático Público
Depois de ouvir as respostas dos alunos, o professor deverá contextualizar a relação entre cristãos e muçulmanos na Idade Média, por meio da leitura de um trecho do capítulo Relações de Poder: O estado nos mundos antigo e medieval, de autoria da professora Sueli Dias, disponível no livro público didático (p. 229 -233).
Após a leitura, o professor deve ressaltar a descentralização política e a importância da igreja católica no mundo medieval, conforme explica Sueli Dias

A transferência das tarefas do 'Estado" é que tornava a nobreza e a Igreja católica indispensáveis: além de recebedores diretos dos recursos obtidos dos súditos em tributos e dízimos, suas funções eram: nobreza – manter a defesa do território; igreja – realizava a assistência social e responsável pelo ensino". (DIAS, 2006, p. 230).

Outro ponto a ser destacado na leitura do texto diz respeito à formação do Estado islâmico, onde "Um dos principais objetivos desta religião foi unificar os árabes num Estado só." (DIAS, 2006, p. 231).

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Após esse momento de leitura, o professor exibirá a imagem de um mapa do século XII do Oriente Próximo. Durante a apresentação do mapa, o professor comenta que ele ilustra o convívio do estilo de vida europeu, definido como feudal – rural, socialmente organizado em estamentos, descentralizado politicamente e centralizado na fé católica – com a cultura árabe de religiosidade islâmica.

Esses apontamentos servirão para facilitar a compreensão da organização social e política da Europa e do Oriente Próximo no contexto da Idade Média.

2ª Aula

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Informar aos alunos que nessa aula será trabalhado o tema das Cruzadas e, para iniciar os debates sobre a organização da Primeira Cruzada, o professor apresentará aos estudantes um fragmento da crônica de Fulquério de Chartres. O trecho fala de um clérigo que esteve no Concílio de Clermont, em 1095 e, em 1096, participou da Primeira Cruzada.

Durante a leitura do fragmento, o professor deverá comentar que as palavras de Fulquério de Chartres ressaltam a necessidade dos cristãos salvarem Jerusalém dos muçulmanos em nome de Deus: "Se há em vós quaisquer deformidades ou tortuosidades contrárias as lei de Deus, com a ajuda divina, eu farei o meu melhor para removê-las. Porque Deus tem lhes posto como mordomos sobre suas famílias para servi-lo". Para reconquistar a "Terra Santa" os cruzados deveriam fazê-lo de maneira cristã - "sejam verdadeiros pastores", diz o clérigo - os católicos precisam estar precavidos "com seus cajados sempre as mãos". Essa frase faz referência ao uso da violência que deveria ser usada em caso de necessidade. Enfim, Fulquério de Chartres deixa claro o poder da Igreja sobre as pessoas: "Especialmente, você deve deixar todos os assuntos que dizem respeito à Igreja serem controlados pela lei da igreja." Além da força política e jurídica, a igreja também deveria receber gratificações de seus fiéis.

Após a leitura desse texto, os estudantes perceberão o poder da Igreja na Idade Média e as motivações religiosas para a reconquista de Jerusalém.
Para concluir esta aula, os estudantes assistirão a quatro trechos do documentário As Cruzadas, produzido pelo History Channel.

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Organização da primeira Cruzada (Parte 1)
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As Cruzadas

Organização da primeira Cruzada (Parte 2)

Após exibir todos os trechos, o professor mediará um debate onde os estudantes deverão explicar, narrar suas impressões a partir das seguintes questões:
1. Qual o valor simbólico de Jerusalém para católicos, judeus e muçulmanos?
2. Como foi organizada a Primeira Cruzada?
3. Qual o papel da Igreja católica na Idade Média?
4. Como Urbano II é descrito?
5. Em que situação as Cruzadas foram organizadas? Qual o papel do imperador Bizantino Aleixo I nesse contexto?
6. Quais foram os argumentos que o papa Urbano II usou para convencer os nobres a participarem da jornada? Como o papa descreveu os muçulmanos?
7. Para o mundo islâmico, o que significaram as Cruzadas?

Durante os comentários dos alunos o professor deverá acentuar que mais de 60 mil homens se organizaram em torno de Godofredo de Bulhão, um nobre devoto e cavaleiro experiente rumo à Jerusalém, uma pessoa que tinha plena consciência do papel político da Igreja Católica na Europa. Além disso, para os pesquisadores muçulmanos, os cruzados (os francos) foram responsáveis pela destruição da cultura islâmica.

3ª Aula

Nesta terceira aula, os estudantes compreenderão que, além das motivações religiosas, os cruzados também buscavam glória e riqueza na “Terra Santa”, conforme demonstrou o diretor Ridley Scott no filme Cruzada (Kingdom of Heaven). Lançado em 2000, o filme gerou tensão ao recolocar a polêmica em torno do termo Cruzada no contexto da Guerra do Afeganistão.
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Cruzada

Acordo entre Balduíno, o Leproso e Saladino


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Cruzada

Ataque à Jerusalém
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Cruzada

Queda de Jerusalém (parte 1)


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Cruzada

Queda de Jerusalém (parte 2)
No primeiro trecho é possível observar a composição da cavalaria medieval europeia com a presença de diversas ordens cristãs, tais como: os templários, os hospitalários e os teutônicos. A batalha entre cruzados e sarracenos na região de Kerak ocorre, mas a aniquilação dos exércitos cristãos é impedida por um acordo entre o rei Balduíno IV e Saladino, líder dos muçulmanos. Neste trecho, o diretor procurou ressaltar a tolerância, a postura magnânima do líder islâmico, indicando que, apesar da superioridade numérica, Saladino respeitava os códigos cavalheirescos e respeitava o reinado cristão de Balduíno. Ainda nessa cena, os estudantes poderão verificar a superioridade da ciência islâmica, quando Saladino oferece seus médicos para tratarem a hanseníase do rei de Jerusalém. No segundo fragmento do filme, o professor trabalhará com as palavras de ordem que motivam o ataque - "a vontade de Deus" - e a convicção dos templários acerca da vitória sobre os exércitos muçulmanos.
O terceiro e quarto trecho do filme apresentam a forma da guerra medieval, os tipos de materiais bélicos usados, especialmente as diferentes estratégias entre cristãos e muçulmanos. Os exércitos de Saladino usam a pólvora (canhões) para derrubar o muro que guardava a cidade de Jerusalém e, como resposta, os cavaleiros cristãos utilizam apenas espadas e escudos, o que acaba sendo insuficiente para deter o ataque sarracenos. O professor destacará a conversa entre Balian e Saladino, onde o cavaleiro cristão ameaça destruir os lugares sagrados de Jerusalém porque acredita que isso acabará com a disputa pela cidade sagrada para cristãos (católicos e judeus) e muçulmanos. Por fim, os estudantes deverão observar que os termos do acordo proposto por Saladino reforçam a ideia de tolerância religiosa exposta no primeiro trecho exibido.

Sobre o filme Cruzada: Balian, um jovem ferreiro francês recebe a visita do cavaleiro Godfrey de Ibelin, seu pai. Este, barão do rei de Jerusalém, dedica sua vida a manter a paz em Jerusalém. Ao perder mulher e filho, Balian decide se dedicar à mesma causa do pai e segue para a Terra Santa onde herda terras e um título de nobreza. Após a morte do rei Balduíno IV, Balian de Ibelin decide permanecer no local e proteger a cidade do ataque sarraceno.

Obs
: Para mais informações sobre o filme Cruzada e seu uso no ensino de História, indicamos a leitura do artigo O cinema na sala de aula: imagens da Idade Média no filme Cruzada, de Ridley Scott de Edlene Oliveira Silva. Este artigo objetiva refletir sobre a utilização do cinema como recurso didático para o ensino de História a partir da análise das representações da Idade Média no filme Cruzada (Kingdom of Heaven), dirigido por Ridley Scott, em 2005. Para finalizar essa sequência de aula é importante comentar que no fim do filme, o diretor Ridley Scott informa ao espectador que a tensão entre islã e cristãos está longe de terminar. Com essa afirmação, o professor deverá colocar o filme em seu tempo de produção, ou seja, em 2005, quando as tropas dos EUA estavam ocupando a região do Afeganistão em resposta aos ataques às torres gêmeas do World Trade Center. Esse retorno ao contexto discutido na primeira aula tem como objetivo problematizar as relações entre islã e mundo ocidental na contemporaneidade, onde as motivações religiosas causam estados de guerra em várias regiões do globo. O professor pode citar os eventos da Primavera Árabe e, mais recentemente, os conflitos na Síria.
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